O QUE É LUGAR DE FALA?
(O TEXTO A SEGUIR TEM COMO REFERÊNCIA A OBRA “O QUE É LUGAR DE FALA?” DA FILÓSOFA FEMINISTA NEGRA DJAMILA RIBEIRO)
Lugar de fala é um conceito filosófico que surge como reação ao
discurso homogêneo branco que se enxerga como universal. Expressões do tipo “todo ser humano é igual”,
por exemplo, que visa falar de (ou a partir de) um não-lugar, isto é, se refere
a todo e qualquer um, independentemente da raça, gênero, classe social etc., não
consegue reconhecer que raça, gênero e classe social é determinante entre as
relações humanas e que esse pretenso discurso universalizante fala de um lugar
determinado, o lugar do homem branco. Ainda seguindo o exemplo citado acima,
para ficar mais clara a exposição, quando se diz que “todo ser humano é igual” e
no mundo prático o acesso do negro a universidade é negado, os piores empregos
são ocupados por negros, 75% das vítimas de homicídio no Brasil são negras
etc., demonstra que essa pretensa universalidade só serve para legitimar o
discurso dominante e mantê-lo em seu lugar de privilégio. O lugar de fala representa uma quebra com
essa visão “universal”, mostrando que “[...] o lugar que ocupamos socialmente
nos faz ter experiências distintas e outras perspectivas. [...]. Ao promover
uma multiplicidade de vozes o que se quer, acima de tudo, é quebrar com o
discurso autorizado e único, que se pretende universal”.
“Essa insistência
em não se perceberem como marcados, em discutir como as identidades foram
forjadas no seio de sociedades coloniais, faz com que pessoas brancas, por
exemplo, ainda insistam no argumento de que somente elas pensam na
coletividade; que pessoas negras, ao reivindicarem suas existências e modos de
fazer político e intelectuais, sejam vistas como separatistas ou pensando
somente nelas mesmas. Ao persistirem na ideia de que são universais e falam por
todos, insistem em falarem pelos outros, quando, na verdade, estão falando de
si ao se julgarem universais.”.
O lugar de fala é
o reconhecimento das limitações inerentes ao discurso, é quebra do discurso hegemônico
pelas múltiplas vozes, é a desestabilização da norma. Todo discurso é um
discurso que parte de um lugar determinado, desta forma, todos temos um lugar de fala. Todos podemos falar sobre
qualquer assunto, por exemplo, um homem branco pode falar de racismo, mas ele
fala de um lugar determinado, enquanto homem branco com privilégios. O
reconhecimento desse lugar possibilita a pluralidade de fala e, por consequência, a escuta de vozes que foram caladas através de uma cultura racista, machista, sexista e homofóbica que se diz universal.